Começou assim, sem querer, como quase tudo sempre começa. A sua presença foi esvaziando aos pouquinhos na minha vida, como um balão de aniversário. E de repente, escapou das minhas mãos e sumiu inteira, de vez. De repente não era só eu desmarcando aqueles nossos compromissos marcados há séculos. As ligações também foram diminuindo, os e-mails entraram em extinção e nem pela internet nos falávamos mais. A desculpa era sempre o cansaço do trabalho, a loucura que as nossas vidas haviam se tornado, a correria, a chuva, o trânsito, o aquecimento global. Eram tantas justificativas que não serviam para justificar mais nada além do óbvio. Do inesperado, do desconfortável, do terrível e do indizível. Estava tudo bem em nos afastarmos. Afastar, aliás, era um grande eufemismo. Nos afastamos tanto que perdemos o referencial, nos perdemos um do outro, nem podíamos mais nos enxergar de longe. Estávamos tão distantes quanto a Terra e o Sol, mas entre nós não haviam bilhões de estrelas. O que havia era só o abismo. Imenso, profundo e vazio. Acho que apenas uma palavra conseguiria servir de ponte entre nós dois. Mas naquela época, já não tínhamos mais palavras para dar ao outro. Só existia o silêncio, o abismo e nós dois, vivendo em nossos próprios mundos. E o triste mesmo é que não havia tristeza nenhuma. A nossa saudade toda virou nada e eu, que vivia acostumada a ter você tão perto de mim, grudado na minha pele com olhos, mãos e boca, finalmente consegui aprender a ser só. Só eu, não a metade da sua laranja, não meio sozinha, nunca metade de mim mesma. Inteira e completa. Completamente esquecida de você.
Mayara Renata
30/07/2013 às 1:19 am
Que texto incrível! Gosto muito da maneira como você escreve, como consegue transmitir sentimentos de maneira tão intensa. Eu devia passar no seu cantinho mais vezes, mas perdida na rotina do dia-a-dia, venho e leio todos os textos de uma vez só. É uma recompensa depois de um dia corrido. ❤