Sabe, eu admiro gente que tem uma ótima relação com a mãe.
De verdade,eu fico muito surpresa com amigos que tem em suas mães a figura de amiga, conselheira, confidente ou algo do tipo.
Pra simplificar,algo como uma mãe de verdade.
Eu não tenho. Eu nunca tive. De fato,as piores lembranças que eu tenho na vida tem alguma relação com a minha mãe.
Tenho trauma com alguns tipos de comida justamente por causa das maluquices alimentares dela quando eu era criança.
Também quando eu era criança,descobri uma vez um livro nas coisas dela,sobre educação infantil.Lembro de ter ficado muito surpresa,porque paciência e dedicação comigo e com minha irmã nunca foram características dela. Bom,mas hoje eu vejo que naquela época,ela tentou.
Mas acho que ia tudo por água abaixo quando ela gritava que nunca quis ser mãe e que se arrependia profundamente de mim e da minha irmã. É,acho que sim.
Ou quando ela gritava que eu nunca conseguia fazer nada direito,que era burra,que era incapaz. Carinhosa,sempre.
Eu cresci e comecei a bater a porta do quarto,a gritar ‘eu te odeio’,a fazer grandes planos de fuga de casa. É bom ter motivos pra ser revoltada aos doze anos de idade. Meio que dá sentido a tudo.
E depois de tudo isso,de alguma forma, as revoltas passaram. As brigas não,as brigas continuam. E hoje ela se assusta quando eu não fico calada. Quando ela grita e eu grito de volta. Quando ela perde a razão e eu ainda tenho ótimos argumentos.
O fato é que… é engraçado.A vida é engraçada de um jeito meio cruel.
Como quando ela repete o nome completo pra eu escrever num pagamento,como se eu não soubesse decorado,daquela vez que ela me fez escrever cinquenta vezes o nome dela porque eu tinha errado num documento.
Ou quando ela diz ‘vá embora da minha casa’,rezando pra que eu não vá,porque eu pago a maior parte das contas da casa dela.
Ela tá certa, essa casa não é minha. Eu passei a vida toda escrevendo cartas cheias de ódio que eu botava por baixo da porta do quarto dela,dizendo que eu ia embora,que ela era um monstro,etc.
No outro dia ela me olhava e perguntava se eu não ia pedir desculpa. E eu dizia que não,não ia não.
Não mãe,eu não me arrependo das cartas. Eu não me arrependo dos gritos de ‘eu te odeio’ e das portas batidas.
Do mesmo jeito que eu sei que você não se arrepende de ter me expulsado da sua casa,há uma hora atrás. E de todos os xingamentos que já me chamou na vida. De sempre aumentar o volume da televisão quando eu começava a contar meu dia. De brigar comigo no meu aniversário, no natal, no dia das mães,etc.
Eu acho que eu só tenho pena. De mim, de você. Dessa situação toda,desde sempre. Eu não queria que fosse assim. eu queria uma mãe que nem a das minhas amigas. Eu nunca quis você,do mesmo jeito que você nunca me quis. Mas coisas e pessoas erradas,acontecem aleatoriamente na vida da gente. Sem explicação cósmica,sem destino. Aleatório. Falta de sorte,só isso.
Enfim. O texto não é um desabafo,não é uma crítica, não é reclamação,não é nada disso. Esse post é uma explicação.
É uma explicação pra todo mundo que fala ‘ah,mas você fala tanto da sua mãe no twitter,ela deve ser ótima né’,mas não entende que nem toda piada é pra ser engraçada. Às vezes uma piadaé só alguém falando de algo que incomoda, uma ironia ,um pedido de socorro. Porque não,não tem graça nenhuma.
Se a sua mãe é legal,aproveite. Ser uma boa mãe não é algo que cai do céu. É dedicação,é vontade,é carinho, é responsabilidade. E não,nem todas as mães tem isso tudo pra oferecer. Nem todas as mães queriam ser mães.
E também pros que sempre me falam ‘ah,mas ela te ama,é o jeito dela’,eu digo que personalidade não é justificativa pra tratar alguém mal. Nunca é. E se isso for amor,eu só tenho a dizer que então,o amor machuca. Machuca muito.
Esse texto foi apenas uma forma de me explicar também. Explicar alguns dos meus defeitos,alguns dos meus problemas que ninguém entende e que atrapalham tanto a minha vida. Eu sou só um reflexo. Eu sou só um resultado. Explicando ela,eu também me explico.
Esse texto foi inspirado também no post http://macasverdes.com/2011/04/nao-esperem-sentados/ da querida @mandyarruda, que entende do que eu tô falando.
Amanda
24/05/2011 às 1:24 am
GAAAAAAAAAAAAABE, vamos pra adoção AMIGAN!
Tu sabe que eu sei o que é isso, né? É muito foda. Parece uma daquelas doenças crônicas: tem dia que tá dando pra levar, mas tem dia que é foda. Hoje mesmo a minha digníssima estava reclamando que eu NÃO GUARDEI os pratos. Sendo que eu saí de casa às 07:10 da manhã e, ainda assim, me dignei a lavá-los. Ela, ao invés de achar que fiz muito, não leva em conta que passei o dia fora e, ao chegar em casa, às 19h, ainda tinha que trabalhar. Não. Ela preferiu achar que eu era A PREGUIÇOSA que não sabe nem guardar a louça.
Tive que respirar BEM fundo, por que olha. STRESS NÃO TÁ FALTANDO.
Eu só espero que, em algum momento da nossa vida, realizemos os sonhos delas e vazemos de suas casas. Actually, cedo ou tarde isso vai acontecer. Eu rezo pelo cedo, né.
Beijos, minha linda!
Mari
24/05/2011 às 2:03 am
Gabi, admirando demais tua coragem de se expor desse jeito. Sério, é para poucos.
Confesso que ria dos teus comentários sobre tua mãe. Acredito que muitos o faziam, também, como vc mesma cita em seu texto.
E, realmente, somos resultados daquilo que nos rodeia, mesmo. Você é uma pessoinha muito sensível e não ache que isso é ruim. Pelo contrário, acho que é muito mais claro para você não querer ser como pessoas que te machucam são. E, isso faz com que você seja uma pessoa melhor. Mesmo que tenha aprendido isso de uma maneira triste.
Não sei como terminar esse depoimento aqui. Mas, saibas que você tem muita gente ao seu lado, tentando amenizar um pouquinho que seja tudo isso.
Saibas que estou torcendo por você! Na vida e em tudo.
Se cuida, mocinha!
Beijão ;*
P.S.: Repetindo: teu blog é foda! Você escreve muito bem, passa sentimento.
Gabi
30/04/2012 às 6:07 am
Eu só tenho algo a lhe dizer sobre este post, xará. Também vivi situações parecidíssimas. Apesar de nossas mães serem “atípicas” e terem uma personalidade forte, isso pode ser diagnosticado como uma doença. No caso (Bipolaridade) ou algum outro transtorno psicológico. Sofri muito, mas acho que devemos encarar como um aprendizado e vontade de “Deus”. Se temos isso, é pq aguentamos. E também sabemos como não devemos ser com nossos futuros filhos. Força!!!!